Dr. Thomas S. Anderson

  Um longo bocejo prosseguiu após o corpo peludo de Tom se esticar preguiçosamente nos lençóis desarrumados de seu colchão usado; com as pálpebras fechadas. "Preciso levantar... mas está tão bom...", pensava, acostumado com o comportamento periódico. Afinal, era esforço demais, não duvidava. Mas precisava, querendo ou não.

  Por fim, se ergueu como se fosse feito de palha, cambaleando até o banheiro que, por sinal, precisava ser limpado. Abriu os olhos cheios de areia, encarando o reflexo de seu espelho; um rosto nada mais nada menos que comum, com olhos castanhos encovados, barbeado e bastante sóbrio, se bem que agora parecia mais um bêbado desmiolado. "Feio", foi o único pensamento de Tom depois da ducha gelada que se seguiu.

  Vestiu um terno preto, alocando a gravata vermelha em seu pescoço com as mãos hábeis e experientes, sem, claro, esquecer o paletó. "Mais um dia... Deus me ajude", pensava novamente, fitando o espelho enquanto penteava cuidadosamente o negrume de seus cabelos curtos para trás. Pelo menos, tinha cara de homem. 

Treinava frequentemente seus pensamentos, fingindo-se de idiota para nossa querida sociedade. Pois, bem sabia, era inteligente demais. Aprendeu da pior maneira possível como a vida é implacável para pessoas de intelecto, caráter e conhecimento acima da média.

- Muito sábio de sua parte, Thomas - disse um velho amigo de sua adolescência ao constatar para o mesmo, rindo. - Onde aprendeu isso?

  Tom simplesmente sorriu enigmáticamente, tocando e destocando sua testa com o dedo indicador rápidamente:

- Conhecimento, Erik. Conhecimento.

  Conhecia em excesso a sociedade. Oh, se conhecia.

  Saiu de casa com pressa forçada, sem esquecer de trancar a porta. Havia muitos bandidos, ladrões e sabotadores rondando pelas ruas; segurança nunca éra demais. Com seus sapatos lustruosos e elegantes, foi andando ao seu trabalho de sempre, como um homem bem sucedido; claro, sem esquecer da carranca à transparecer naquèla faceta simples, limpa e dissimular.

- Advogado, maduro, cortês... Um bom homem - já dizia uma das colegas de trabalho de Tom, terminando seu relato da primeira impressão para um grupo de outras mulheres. Amigas, provavelmente. - Só achei ele muito sério... banal, sem graça... Vale a pena? - E Thomas, fingindo não ouvir absolutamente nada, não conseguiu segurar sua rica gargalhada, acarretando olhares estranhados por parte das mesmas.

  Adorou isto.

  Estava tendo êxito, no fim das contas.

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