Fugitivo

  Um riacho de dúvidas atingiu Steven enquanto repousava; debruçado na grama verde, macia e aconchegante. Uma sensação de harmonia enchia-lhe da cabeça aos pés, amando cada minuto disso tudo; fitando a mais extraordinária das visões de seus olhos safira: a floresta além do jardim culminado de coloridas flores.

- O mundo é engraçado... Um dia estamos tão tranquilos; mas noutra hora, coisas ruins acontecem. Pena não ser eu quem possa fugir disso - murmurava o rapaz, 

  O sol batia nos olhos azul-escuros de Steven com seus punhos brilhantes, ao passo que o vento eclodia de lugar nenhum, sussurrando para os galhos de árvores Pau-Brasil. Um lindo dia. Um lindo jardim. Um lindo céu. Tudo era tão perfeito quanto devia ser. Se os momentos durassem para sempre... 

  E o tempo passava. Logo, uma hora passou... Duas... Três... E Steven ainda contemplava tamanha beleza. Mas devagar escurecia; lento o sol descia e rápido a noite emergia. Que pena!! Podia apostar que morreria feliz, se é que o momento chegaria tão depressa.

  Os pássaros calaram-se; a lua subiu e o rapaz de cabelos d'ébano saiu. Atrasado estava; não podia perder mais tempo. E logo correu dali, desejando avidamente que ninguém tivesse suspeitado de sua breve ausência. "Breve... Estou ficando louco?", pensava, ainda correndo por sobre as árvores acizentadas numa estrada íngreme de mármore, "Fiquei lá a tarde inteira. Que Deus me salve do que meu pai vai fazer comigo".

  Logo, avistou uma mansão colossal, e ali parou. Resfolegava pesadamente ao enfim chegar na escadaria de seu lar. O suor enchia seu rosto, de quando em quando entrava em seus olhos, resultando num arder suportável, mas desagradável. Escapoliu uma praga ao ver o estado de suas roupas caras. "Sujo, suado, morto... Estou fodido". Mas pensar nada adiantaria. Subiu o resto das escadas e foi de encontro ao portão do tamanho de uma casa comum, d'ouro maciço, complementado com um sino do mesmo material. Tocou. "TlimTlim Tlim!!", ecoou. E, ao abrir, ele entrou.

                                                      ...

  Antes que percebesse, Steven estava sentado numa poltrona tão macia quanto a grama daquèla tarde, de banho tomado, cabelo penteado e coberto por um cobertor de veludo; tomando uma xícara de chocolate quente enquanto a lareira crepitava ao seu lado. Relaxante, poderia dizer, mas não tranquilo. 

  Então, um homem baixo e esbelto, com um elegante e farto bigode dourado entrou nos aposentos de Steven Selthigar Nardus. Tinha um aspecto finíssimo, de inconfundível nascimento, e conservava bons modos ao sentar, cruzando as finas pernas, na poltrona ao lado.

- Filho. - Sua voz era grave, comparado à sua estatura.

- Pai. - Saudou Steven e, de repente, percebeu que o quarto ficou mais quente do que deveria.  

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