Meio do Nada

  Não se lembrava da última vez que havia comido. Carne, peixe, frango... Só de pensar sua boca salivava. Mas, agora, era morrer ou viver.

  Deu um passo. Suas pernas latejavam e tremiam com o impacto do simples pé-ao-chão. Não era frio; calor não faltava. Era ele.

  Outro passo. O calor massacrava impiedosamente o homem, gasto de valores e vinganças no passado. Logo, parecia justo estar no meio do nada, num deserto semfim, tudo por causa que resolveu fazer um passeio turístico. Os turistas nunca foram respeitados, em todo caso.

  Volta e meia, àquela dor, cansaço crônico e fraqueza incontestável não passava de  um grão de areia num maldito caminhão de caminhoneiro. Poderia ser tanta coisa... Talvez Deus tenha mesmo  julgado-o por suas ações. De onde sairia tanto azar? Foi um pensamento bem frequente em busca de sua sobrevivência. E, por fim, uma lesma seria mais rápido que ele.

  Mais um passo. A areia escaldava em seus pés nus sob as caretas de dor, tão acostumados com a vida boa que poderia estar numa frigideira gigante, e não faria a menor diferença.

  Então, olhou uma última olhada.

  "O meio do nada..."

  Se se jogasse no chão, seria uma morte lenta e dolorosa. Se parado ficasse, cedo ou tarde, iria desabar. E agora? O que faria?

  Não sabia.

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