Neve

  Neve. Bela de se contemplar.

  Seus delicados flocos pareciam cair das estrelas naquela noite de lua cheia, disseminadas pela vastidão do céu, esculpidas com tamanha perfeição que, ao vislumbrá-los bem de perto, custoso era respirar. E quando acorrentar os pulmões já não era mais opção, o mesmo se libertava, moldando e empurrando vapor dos lábios, como névoa à soprar, esvoaçando-a para, depois, repousar com seus irmãos; aglomerados num parque sem nome, sem multidão, sem confusão.

  De quando em quando, uma criança juntava-se àquele espetáculo, sonegando entre uma macia camada de neve. A mesma trajava-se dos pés à cabeça; dois suéteres de lã sobrepostos num quente casaco-de-peles cinza-prateado, lindamente atado num matagal de pelos entre o pescoço, de suave roçar.

  Não desejava menos que lá continuar.

  E continuou.

  Ora mais tarde, cristais de neve dormitavam em seus curtos cabelos acastanhados.

  Ora mais tarde, o sossego acalmava sua alma; e aqueles olhos-dravita, plenos de inocência e intriga, cessavam vagarosamente como um pôr-do-sol.

  Ora mais tarde, aquela menina lá continuou.

  Até que acordou.

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