"Presenças fulgurantes. . ."
Imagino minha face rubra enquanto amarfanho-me nos finos cobertores que cobrem um colchão esfarrapado. Por entre sombras e escuridão, um murmúrio gélido sopra de meus lábios ressecados:
"Alimento minha paixão na vastidão oceânica do espaço-tempo. . ."
A calamidade refreou, e via-me inundado de um líquido quente e viscoso, como se minhas lágrimas adquirissem um teor lívido e mortiço, a percorrer meu rosto como brasas incandescentes. Um segundo bastou para que eu abrisse as pálpebras e tudo voltasse ao normal. Fora, afinal, um sonho. . .
Apenas um sonho.
- Bonita frase.
Viro-me, assustado.
- Leste meus pensares? - indago, abusivo.
Era uma menina. Súbito, percebo: não estou em meu quarto, mas numa sala colossal cujas alturas não têm fim. Boquiaberto, não consigo crer no crível; tampouco ver o visível. Como entender o inteligível?
- Não precisa ser tão agressivo, Gabriel. Apenas acompanho o dia, a noite e o luar - disse a menina, quase a cantar.
Silêncio. Pondero suas palavras, assentindo.
- Sabe? É deprimente saber que as únicas coisas que podem nos ver são os seres humanos. Não mostramos nossa totalidade. É estranho; é como se existíssemos sem existir. . . Sim. Perdemos tempo. . . e o ganhamos - conclui a estranha menina. - E não sou estranha. Sei que escreves esta história.
- O quê? - fito-a, confuso. - Crio vida, mas não sei o que ela é. . . Por que escrevo a mim mesmo num cenário inteiramente diferente do que aquele em que verdadeiramente estou? Sou munido de preocupações, anseios e limitações. Por que O Criador não faz diferente?
- Por que ele quer vê-lo sofrer. Quer que experimente o máximo sofrimento, para alcançar o máximo amor. Não há limites. . .
É infinito.
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